Fazer resenha é sempre algo deveras preocupante para mim! Apesar de ter feito um curso que exigia isso constantemente, nunca deixei de sentir aquela angústia comum dos alunos "caxias": será que essa bagaça ficou legal? Na época da facu, quanto mais distante você se colocasse do objeto do seu estudo, melhor para você. Sempre achei que eu deveria sentir "nojo" do meu objeto de pesquisa. "Que negócio é esse de fazer parte e se inserir no contexto do seu trabalho". Graças aos Deuses que minha orientadora tinha uma ideia diferente da maioria e me incentivou a falar da minha experiência junto aos livros e aos romances que haviam me levado até ali.
Na ultima quinta-feira, eu perdi um livro. Perdi um livro e não chorei por causa disso. Não esperneei, não gritei, não xinguei e não culpei ninguém. Perdi um livro e fiquei com o coração leve, com a mente cheia de bons fluidos e pensamentos libertadores. Perdi um livro e passei a acreditar novamente que a humanidade tem jeito, e que é através da leitura e dos leitores que se constrói um mundo melhor.
Recebi o livro "As Crônicas da Terra do Lago" da autora Iracy Araújo. Uma trama leve, com uma história tão mágica que me fez querer estar na Terra do Lago, apesar de tantas desventuras acontecendo por lá. Como o ano letivo ainda não foi encerrado, alguns alunos aparecem ainda na escola, para pegar resultado ou fazer recuperação. Eduardo* é um deles. Com 15 anos, é o mais velho de uma família de cinco irmãos. A mãe, que ainda não fez 30 anos, trabalha o dia todo e viu na escola integral uma chance de passar o dia no trabalho mais tranqüila, pois sabe que os filhos estarão sob os nossos cuidados, por assim dizer. Eduardo é um garoto alegre e divertido. Paquerador, desperta o ciúme das meninas e a inveja dos meninos. Esforçado, sempre mostrou muita dificuldade na hora de ler, o que para mim era um grande problema, pois ele já está no 8° ano. Como muitos alunos na mesma situação, essa fase de "não consigo ler" ainda não está superada. Ao longo do ano letivo, os professores de todas as disciplinas "massacraram" Eduardo: textos de vários tipos, jornais e revistas. Tínhamos que colocar o moleque para ler. Ele gaguejava, tremia, suava, mas nunca desistia... Quando terminava, a impressão que tínhamos é que ele havia corrido uma maratona. E tinha mesmo! Ler tentando fazer com que o texto ganhe um sentido para você não é somente exaustivo: em alguns casos, é desencorajador. Mas Eduardo continua sua jornada, sem esmorecer. A poucos dias, corrigindo provas enquanto eles batiam um papo, já que não tinha mais nada para fazer, Eduardo viu o livro em cima da minha mesa, o que é extremamente comum, já que estou sempre com um livro diferente. Ele pediu para "dar uma olhadinha", e é claro que eu deixei, já tinha acabado de ler no ônibus, antes de chegar na escola. Entrei na sala às 7:30 e quando estava saindo, as 10:00, Eduardo ainda lia o livro. No final do dia, Eduardo me pediu o livro emprestado. Quem me conhece, sabe que eu não gosto de emprestar livros, mas nesse caso, é claro que fiz uma exceção. No meu próximo dia nessa escola, Eduardo me disse que não tinha terminado de ler o livro, e como era o último dia de aula, ele havia anotado o nome do livro, e pediria para a mãe comprar quando tivesse dinheiro. Foi aí que eu perdi o livro. Como não perdê-lo? Ouvir Eduardo me contando todo entusiasmado a trajetória de Selene, uma jovem que se vê envolvida em um mundo mágico que não procurou, mas serviu para que ela encontrasse a si mesma através do afastamento e da perda é no mínimo um privilégio para mim. Sentir a vibração através das palavras quando ele explanava sobre Quíron e os sacrifícios que fez para salvar a filha de seu monarca e amigo, carregando consigo um grande legado. Uma trama singela, encantadora e cheia de simbologia sobre amizade, amor, sacrifício e força de espírito.
Eduardo começou sua doce e dura jornada rumo aos livros. Será o primeiro, de muitos outros que virão. Isso é o que desejo para ele. Que ele entre de cabeça nesse universo tão vasto e rico. Com certeza, ele nunca vai esquecer o nome do primeiro livro que leu: "As Crônicas da Terra do Lago". E por isso, para mim, essa parceria valeu...
Obrigada Iracy!
Elimar
Desafio Literário de Férias: RESENHA#1
Na ultima quinta-feira, eu perdi um livro. Perdi um livro e não chorei por causa disso. Não esperneei, não gritei, não xinguei e não culpei ninguém. Perdi um livro e fiquei com o coração leve, com a mente cheia de bons fluidos e pensamentos libertadores. Perdi um livro e passei a acreditar novamente que a humanidade tem jeito, e que é através da leitura e dos leitores que se constrói um mundo melhor.
Recebi o livro "As Crônicas da Terra do Lago" da autora Iracy Araújo. Uma trama leve, com uma história tão mágica que me fez querer estar na Terra do Lago, apesar de tantas desventuras acontecendo por lá. Como o ano letivo ainda não foi encerrado, alguns alunos aparecem ainda na escola, para pegar resultado ou fazer recuperação. Eduardo* é um deles. Com 15 anos, é o mais velho de uma família de cinco irmãos. A mãe, que ainda não fez 30 anos, trabalha o dia todo e viu na escola integral uma chance de passar o dia no trabalho mais tranqüila, pois sabe que os filhos estarão sob os nossos cuidados, por assim dizer. Eduardo é um garoto alegre e divertido. Paquerador, desperta o ciúme das meninas e a inveja dos meninos. Esforçado, sempre mostrou muita dificuldade na hora de ler, o que para mim era um grande problema, pois ele já está no 8° ano. Como muitos alunos na mesma situação, essa fase de "não consigo ler" ainda não está superada. Ao longo do ano letivo, os professores de todas as disciplinas "massacraram" Eduardo: textos de vários tipos, jornais e revistas. Tínhamos que colocar o moleque para ler. Ele gaguejava, tremia, suava, mas nunca desistia... Quando terminava, a impressão que tínhamos é que ele havia corrido uma maratona. E tinha mesmo! Ler tentando fazer com que o texto ganhe um sentido para você não é somente exaustivo: em alguns casos, é desencorajador. Mas Eduardo continua sua jornada, sem esmorecer. A poucos dias, corrigindo provas enquanto eles batiam um papo, já que não tinha mais nada para fazer, Eduardo viu o livro em cima da minha mesa, o que é extremamente comum, já que estou sempre com um livro diferente. Ele pediu para "dar uma olhadinha", e é claro que eu deixei, já tinha acabado de ler no ônibus, antes de chegar na escola. Entrei na sala às 7:30 e quando estava saindo, as 10:00, Eduardo ainda lia o livro. No final do dia, Eduardo me pediu o livro emprestado. Quem me conhece, sabe que eu não gosto de emprestar livros, mas nesse caso, é claro que fiz uma exceção. No meu próximo dia nessa escola, Eduardo me disse que não tinha terminado de ler o livro, e como era o último dia de aula, ele havia anotado o nome do livro, e pediria para a mãe comprar quando tivesse dinheiro. Foi aí que eu perdi o livro. Como não perdê-lo? Ouvir Eduardo me contando todo entusiasmado a trajetória de Selene, uma jovem que se vê envolvida em um mundo mágico que não procurou, mas serviu para que ela encontrasse a si mesma através do afastamento e da perda é no mínimo um privilégio para mim. Sentir a vibração através das palavras quando ele explanava sobre Quíron e os sacrifícios que fez para salvar a filha de seu monarca e amigo, carregando consigo um grande legado. Uma trama singela, encantadora e cheia de simbologia sobre amizade, amor, sacrifício e força de espírito.
Eduardo começou sua doce e dura jornada rumo aos livros. Será o primeiro, de muitos outros que virão. Isso é o que desejo para ele. Que ele entre de cabeça nesse universo tão vasto e rico. Com certeza, ele nunca vai esquecer o nome do primeiro livro que leu: "As Crônicas da Terra do Lago". E por isso, para mim, essa parceria valeu...
Obrigada Iracy!
Elimar
Que maravilha! Se for para perder livros desse jeito, acho que até eu quero...
ResponderExcluirTomara que a partir dessa leitura o Eduardo se transforme em um monstro devorador de livros! Torço muito para que ele pegue a mania, irá ajuda E MUITO no desempenho escolar do garoto :)
Fiquei super curiosa para ler esse livro! Impossível seria não ficar, rsrs
Lindo post!
Abraços,
http://leitorasanonimas.com
Uou, tão emocionante que até daria tema para um novo livro!
ResponderExcluirQuem sabe esse não acaba sendo escrito pelo Eduardo.
Parabéns Elimar, por sua atitude adorável!
Beijos
http://giselecarmona.blogspot.com/
Lindo! Infelizmente é ainda enorme a quantidade de gente que não sabe ler direito. Fico tão feliz que esse garoto encontrou o livro! Provavelmente este o levará a outros melhores ainda, transformando Eduardo num leitor voraz como nós! :DD
ResponderExcluirEu perderia o livro também, por mais caro que ele tenha sido.
Abraços!
Lizzie
http://ahiddenpalace.blogspot.com
Bom dia.
ResponderExcluirDesculpa o incomodo, mas venho hoje pedir que olhe com carinho meu blog de resenhas literárias, o O Leitor.
Se puder fazer parte, agradecemos.
Obrigada e uma ótima segunda-feira. Beijos,
Pamela.
Eliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, cada dia te admiro mais!!
ResponderExcluirQue linda sua atitude, vc poderia ter simplesmente escrito o nome do livro pra ele comprar, mas cá entre nós a chance de ele realmente ter comprado o livro dps era pequena de mais. Tomara que o mundo tenha mesmo ganhado um novo leitor!
E eu fico extremamente feliz de ter sido um livro nacional, o que prova mais uma vez que nossos escritores são mara!!
Beijocas!!
Uau!!! Que história, Elimar!
ResponderExcluirSucesso para o Eduardo!
E cada vez mais chego à conclusão de que seus alunos são mesmo uns sortudos. rsrsrs
Luana.