Charlotte Street
Danny Wallace
Ano: 2012
Número de páginas: 400
Sinopse:
Tudo começa com uma garota... (porque sim, sempre há uma garota...) Jason Priestley acabou de vê-la. Eles partilharam de um momento incrível e rápido de profunda possibilidade, em algum lugar da Charlotte Street. E então, em um piscar de olhos, ela partiu deixando-o, acidentalmente, segurando sua câmera descartável, com o filme de fotos completo... E agora Jason — ex-prodessor, ex-namorado, escritor e herói relutante — se depara com um dilema. Deveria tentar seguir A Garota? E se ela for A garota? Mas aquilo significaria utilizar suas únicas pistas, que estão ainda intocáveis em seu poder... É engraçado como as coisas algumas situações se desenrolam...
Comentários:
Não vou enganar vocês: demorei muito para ler esse livro! Parece que eu não conseguia passar as páginas com a rapidez que eu estou acostumada, e para mim, a trama não evoluía. Jason Priestley é um cara perdido no mundo, que mora com um amigo apaixonado por video-games, Dev. O cara parece que tem uma existência mediana, que não vai conseguir mais nada da vida, e está sendo pressionado por Dev para tomar alguma atitude, ao invés de ficar parado, lamentando aquilo que não aconteceu, como o relacionamento com sua ex-namorada. Dev (guarde o nome desse cara... para mim, o melhor personagem do livro), quer que o amigo "passe de fase", que siga em frente, que trace uma meta importante e a cumpra, mas Jason parece querer sofrer, se punindo por algo que não sabemos ao certo o que é. A estória vai se desenrolando aos nossos olhos, seguindo o dia a dia de Jason, que num dia, sem grandes movimentações, cruza com uma mulher bonita, que deixa cair uma máquina fotográfica estantanea, onde você só pode tirar 12 fotos (ufa...). A partir desse acontecimento corriqueiro, a vida de Jason segue um rumo diferente, mas não menos monótono (a meu ver). Ele resolver ler as pistas deixadas nas fotos (reveladas por intervenção de Dev - sempre ele), para poder reencontrar a tal moça. Dev quer que ele "agarre o momento", não deixando "A Garota" sumir. Ele acha que Jason encontrou aquilo que a gente procura, o marco de transformação para a nossa existência, o tal "Momento", e o confronta com isso:
(...) E se a vida for feita de momentos? E se nós não agarrarmos o momento? E se outro momento nunca vier? Você poderia ser lembrado como um herói ou poderia ser apenas uma pessoa que viveu animamento até o dia que anonimamente morreu.
Pela boca de Dev acabamos por escutar várias verdades, que nos faz pensar se agarramos o nosso momento. Jason parece que vive de favores, em todos os sentidos: mora no apartamento do Dev, tem um trabalho temporário por causa da Zoe, sua amiga de faculdade, come de graça em eventos, por causa de seu trabalho atual. Jason está a margem da vida, mas parece não querer sair dessa situação, e a procura da tal "Garota" parece ser agora o ponto alto de sua existência. Nesse contexto, vemos como a relação com sua ex-namorada Sara ficou estremecida, pois Jason não consegue ir em frente, não por querer-la de volta, mas porque não consegue lidar com a situação de maneira madura, conseguindo ficar verdadeiramente feliz com o noivado dela (pois é... ela foi em frente e ele não).
Jason não me parece querer mudar de verdade. Ele mesmo se coloca numa posição secundária na vida, se autodefinindo como uma pessoa "Tipo 2". Segundo ele, existem dois tipos de pessoas, as "Tipo 1" (que é o caso do Dev), e as "Tipo 2", que é o seu caso:
Aquele que julga tudo de acordo com o seu mérito. Não porque isso é a coisa correta a se fazer, mas porque há alguma coisa em mim que não tem essa paixão. Aquela necessidade por um conhecimento periférico. (...)
O tipo 1 (caso do Dev) é aquele cara que aprende tudo sobre o assunto que lhe interessa, e faz daquilo parte integrante da sua vida (amei esse cara). As vezes sinto que Jason tem certa inveja de Dev, por ele ficar feliz com as pequenas coisas, mesmo tendo problemas para resolver (morri de pena quando descobri quais eram os problemas). Dev é o tipo de amigo que todo mundo procura, pronto a te dar apoio quando você precisa, mas também com um discurso no bolso para te fazer acordar para a vida:
Amizade significa tudo para o Dev. Se ele tivesse na universidade com o Hitler, ele provavelmente teria feito com que ele olhasse para o lado bom enquanto os segundos passavam no bunker.
A briga entre Jason e Dev foi o que mais tocou no livro. A sensação de que os dois não conseguiram resolver as suas diferenças me fez perceber que nem sempre a gente tem que concordar com o que o nosso amigo nos diz, mas que é necessário que o respeito exista, e que o outro entenda que nem sempre o que a gente fala é para ter razão ou para te fazer sofrer, mas que a pessoa significa tanto para a sua vida, que você se sente na obrigação de dar aquela sacudida que ninguém mais quer dar. O que eu posso dizer pessoalmente, é o que o livro valeu para mim, apesar de não ter gostado tanto do protagonista. Isso porque, em vários momentos me identifiquei com ele (piração né?). As vezes acho mais fácil me conformar com as coisas do que agir. É mais fácil reclamar de tudo e todos, e deixar as coisas acontecerem, sem ter uma participação verdadeiramente ativa nas coisas importantes em nossa vida. Não acho que seja um livro para a galera mais teen, mas se você já passou dos 30 anos e precisa tomar algumas decisões dolorosas na sua vida, eu recomendo esse livro. É bem verdade que temos um final meio clichê, mas a gente supera essa parte. Quem sabe seus olhos não fiquem mais abertos para as coisas verdadeiramente importantes da vida.
Elimar